terça-feira, 5 de julho de 2011

A volta da alegria

Djokovic ressurge e consegue, enfim, romper a dicotomia Federer-Nadal


NO FINAL DE 2003, ROGER FEDERER havia assumido o posto de melhor do mundo. Em meados 2005, Rafael Nadal surgia para confrontá-lo. Há quatro anos, em 2007, Novak Djokovic aparecia como a terceira força do tênis mundial.

O sérvio era bonachão. Divertido. Seu jogo eram sério, mas suas atitudes em quadra era de alguém que se divertia. Ele não se encaixava no perfil de Federer (discreto, pouco emotivo e eficaz), nem no de Nadal (raçudo e batalhador). Ele era o irreverente. O "Djoker". Apelido que a mídia norteamericana logo lhe pôs e que vem de "joker", o curinga do baralho. Ele era o palhaço. O brincalhão.

E era mesmo. Suas reações em quadra animavam o público, muitas vezes mais do que seu jogo. Ao perder um ponto fácil, mãos ao céu e alguma frase engraçada logo se seguia. De repente, junto com os bons resultados - em que se incluem a nal do US Open em 2007 e o título do Australian Open em 2008 - descobriram que o rapaz tinha mesmo um talento para a comicidade.

Logo se espalhou um boato de que ele imitava seus colegas de profissão. Em seguida, vídeos no Youtube comprovaram. Neles, ele aparecia em treinos imitando Nadal, Andy Roddick e Maria Sharapova com seus inúmeros trejeitos. Quando perguntado, negava. Mas não demorou para que os promotores pedissem para que ele demonstrasse suas habilidades de imitador - em inglês diz-se impersonator (alguém que personi ca outro) - em quadra, diante de multidões e da televisão.



Alguns colegas de pro fissão reclamaram, outros nem ligaram, outros até apoiaram as palhaçadas de Djokovic. Nos vestiários, ele era motivo de todas as conversas. A mídia o exaltava. En fim alguém com personalidade no circuito. Enfi m alguém que dá o que falar além de suas vitórias. Se Federer e Nadal representavam o tênis, um com sua plástica, outro com sua garra, o sérvio era um contraponto bem vindo à seriedade dos dois, à seriedade do esporte.


No final de 2010, Djokovic voltou a ser o que era. Divertindo-se fora da quadra, ele passou a ser divertir também dentro dela e foi aí que seu jogo recuperou a alegria


CHATICE
De repente, depois de ganhar o primeiro Grand Slam, algo estranho aconteceu com o Djoker. As piadas sumiram. A cara fechou. As entrevistas caram chatas. Repetitivas. Monótonas. Ele pedia para não mais ser questionado sobre imitações. Queria ficar focado no jogo. Era isso o que importava, fazia questão de frisar. Já não demonstrava emoções em quadra. Sorrisos, antes constantes, agora eram quase que proibidos. Acabou a brincadeira. Contudo, a versão séria de Djokovic não agradava ninguém. Nem a ele mesmo.
Esperava-se que, sem palhaçadas, seu jogo crescesse , assim,e ele poderia confrontar Federer e Nadal de igual para igual e não ser apenas um coadjuvante dos dois. Não foi o que aconteceu. As vitórias não vieram e, sem elas, veio um amargor que tomou conta da personalidade do sérvio.
Essa mudança de perfil não lhe trouxe nada de bom. Tanto que ele chegou a ser vaiado no US Open de 2008. Algo impensável se considerarmos que, no ano anterior, ele era o xodó do público norte-americano. Sua luz começava a esvaecer, assim como seu jogo. De terceira força do tênis, logo voltou a ser considerado apenas mais um "sem brilho" atrás de Federer e Nadal.

RINDO POR ÚLTIMO

Até agosto de 2010, Djokovic resolveu abandonar seu papel de palhaço, mas não viu nada de novo acontecer em sua carreira, que parecia, sim, estar decaindo. Durante o US Open do ano passado, porém, ele se permitiu rir novamente. Voltou a demonstrar os sentimentos em quadra, zombar de si mesmo. Até aceitou imitar os colegas diante das câmeras de novo. Timidamente, ele voltava a ser o Djoker.

Algo ainda não estava se encaixando em seu jogo, mas sua personalidade - pelo menos aquela que o público conheceu em 2007 - dava sinais de que retornava ao seu formato original, um formato que agradou tanta gente. Logo, divertindose fora da quadra, o sérvio começou a se divertir dentro dela, quando seu jogo também recuperou a alegria, a irreverência.

Foi assim, com um sorriso no rosto, que ele venceu novamente o Australian Open em 2011 e que somou 24 vitórias seguidas neste começo de temporada (e nenhum derrota), ganhando ainda Dubai e os Masters 1000 de Indian Wells e Miami. Dessa maneira, Djokovic volta de nitivamente a compor a trinca do tênis, sem ser igual a Federer ou Nadal e, quem sabe, tornando-se melhor do que eles.

A maneira como a vitória sobre Troicki na estreia do US Open 2010 fez Djokovic ressurgir é difícil de explicar, mas este claramente foi seu momento da virada



O PONTO DA VIRADA

Era a primeira rodada do US Open 2010 e Novak Djokovic estava com um problemão. Apesar de ele ter ganho o primeiro set na estreia contra Victor Troicki, ele perdeu os dois sets seguintes, 6/3 e 6/2. Dadas as complicadas condições, e o histórico de Djokovic com problemas respiratórios e colapsos físicos, isso era uma má notícia para a talentosa estrela sérvia, cabeça-de-chave três do torneio. A temperatura em quadra era de 42°C, o jogo de Troicki também estava "quente" e Djokovic começou a entrar em pânico. Ele não se sentia bem, e Troicki estava ganhando.

Djokovic sabia que a única coisa que podia ser pior do que isso era ele perder para Troicki, seu compatriota. Apesar de eles serem amigos e colegas na Copa Davis, havia história no confronto, como Djokovic explicou depois: "No primeiro torneio oficial da minha vida - era categoria até 10 anos - venci a primeira partida e então joguei com Troicki na segunda. Ele me destruiu. Ainda conversamos sobre isso".

Entre os entendidos, uma derrota para Troicki seria um pesadelo. Ainda que Djokovic tenha mantido seu ranking durante 2010, ele parecia estar com dificuldades. Seu saque estava uma porcaria, a ponto de ele dar mais duplas-faltas que aces. Então houve a derrota para Tomas Berdych em Wimbledon por três sets a zero na semifinal - o sérvio descreveu isso como: "Não estava indo para as bolas. Estava meio que esperando ele cometer erros. Eu estava errado".

Isso certamente foi dito honestamente, mas uma questão urgia daí: "Como um excampeão de Grand Slam e atual top 3 pode tomar uma decisão tão ruim? Por que ele não retificou seu erro quando o percebeu?" Djokovic parecia estar encaminhando a resposta. Semanas atrás, se ele esti vesse perdendo para Troicki, seria inevitável que ele entrasse em colapso. Ele tinha vivido muito tempo nas sombras.

Mas a derrota não veio. Depois de um 7/5 no quarto set, Djokovic venceu Troicki. Quando ele acabou perdendo a final do US Open para Rafael Nadal numa batalha de quatro sets, sua reviravolta estava completa, se não já completamente validada. O selo final de aprovação só seria deferido em sua próxima participação em um Major, o Australian Open 2011. O sérvio planou pela competição, perdendo somente um set e demolindo Andy Murray na final. De repente, o tênis se tornou um tripé: Federer, Nadal e Djokovic.

A coisa curiosa e incrível nos últimos cinco ou seis meses na vida de Djokovic não é que ele deu a volta por cima, mas como ele fez isso. Aquele jogo com Troicki foi um momento essencial. Ele nunca será identificado como o momento de transformação dele ou um dos maiores de sua carreira, mas ele poderia ser ambos. Qualquer um que afirma que pode lhe dar uma explicação boa e lógica para o que aconteceu durante e imediatamente depois daquele jogo estará louco ou mentindo.

Sim, Djokovic se inflamou. Obviamente, ele começou a acreditar em si mesmo. Sem dúvida, todos os aspectos de seu jogo, incluindo o saque vacilante, logo melhoraram. Mas não há uma explicação satisfatória do porquê. E isso é uma das coisas bonitas deste esporte. Ele não é inteiramente sobre X e Y, a qualidade do treinador, a quantidade dos erros não forçados, ou das estatísticas de primeiro saque.

Tênis é um pouco como a mãe natureza nesse aspecto. É preciso uma combinação de circunstâncias, nem todas óbvias ou previsíveis, para começar um evento em massa como uma avalanche ou fazer finais de Grand Slams em anos consecutivos. Como aquela vitória sobre Troicki se encaixa no ressurgimento de Novak Djokovic é impossível de explicar, mas, ao olhar para trás, é óbvio que foi um momento de virada.

Acho que podemos dizer que Djokovic conseguiu uma recompensa pela derrota que sofreu nas mãos de Troicki quando eles duelaram aos 10 anos de idade.

Humilde, Djokovic prega evolução e se inspira em rival: "Nadal é meu exemplo"

Sérvio declara que "há muito para se melhorar" e quer sentir gostinho da liderança da ATP; atleta defenderá país neste fim de semana pela Davis

Depois de ganhar o torneio de Wimbledon e assumir o posto de número 1 do mundo, o sérvio Novak Djokovic admitiu que ainda tem aspectos a melhorar em seu jogo e afirmou que utiliza o exemplo de seu rival Rafael Nadal para conquistá-los.

O natural de Belgrado soma 48 vitórias em 49 partidas na temporada onde ganhou oito títulos em nove torneios, mas está longe de se contentar com os feitos até aqui. "Quero melhorar. Meu exemplo é o Nadal. Alguns anos atrás, todos sabiam que ele era dominante no saibro, mas nem tanto em outras superfícies. Ninguém acreditava que ele poderia evoluir nas outras quadras e ele o fez", disse o sérvio de 24 anos que assumiu o piso duro ainda como o seu melhor. 

"Ainda me considero um tenista com algo a provar e melhorar meu jogo", adicionou o tenista que encerrou uma dinastia de sete anos de hegemonia de Nadal e Federer no topo da ATP. Djokovic disse que ainda não sabe o gostinho que é ser o número 1.




"Ainda não sei porque nunca fui número 1, mas vou experimentar isso neste período de minha carreira. Dizem que é mais difícil permanecer do que ser número 1. Vou ver se isso é verdade, mas quero ficar no topo o máximo de tempo que puder", revelou.

Na última segunda-feira, Nole teve um dia de rei ao desembarcar em Belgrado. Cerca de 100 mil pessoas recepcionaram o atleta em um palco montado em frente ao prédio da Assembleia da capital. Agora, ele passará um dia e meio na capital da Sérvia e seguirá direto para Halmstad, na Suécia, para a Copa Davis.

"Tenho agora a Copa Davis no próximo final de semana", disse Djokovic, que planeja curtir os feitos alcançados: "Depois vou tirar duas semanas de descanso. Vou deixar minhas raquetes de lado, vou à praia, fechar meus olhos e refletir em tudo que vem acontecendo", concluiu.


domingo, 3 de julho de 2011

Djokovic come grama ao festejar o título e diz: 'Eu me senti um animal'

Novak Djokovic é o CAMPEÃO de WIMBLEDON



Não haviam passado nem dois minutos desde que a final de Wimbledon havia acabado. Novak Djokovic cumprimentou Rafael Nadal, o oponente vencido, e agachou-se na Quadra Central de Wimbledon. Arrancou um punhado de grama e comeu. Um tempo depois, o sérvio, que será número 1 do mundo a partir de segunda-feira, explicou o gesto.

Eu me senti como um animal. Queria saber como era o gosto. É bom. Foi espontâneo. Não sabia o que fazer de tanta empolgação e alegria - disse o sérvio, arrancando risos dos jornalistas que estavam na sala de entrevistas coletivas.
Djokovic afirmou também que o terceiro título de Grand Slam (os Australian Opens de 2008 e 2011 foram os dois primeiros) e o posto de número 1 do mundo - ambos garantidos nesta semana - são os dois maiores feitos de sua carreira. O sérvio se disse sem condições de descrever as emoções, mas ressaltou que ainda tem muito a conquistar.

- Eu nasci para isso, quero ser um campeão no tênis. Não vou parar aqui, embora tenha alcançado as duas maiores coisas da minha vida em três dias.

O jovem de 24 anos classificou a final deste domingo como o melhor jogo de sua vida em uma quadra de grama e ressaltou que ele veio no momento certo. Nole, que fez sua primeira final de Grand Slam em 2007, mas só chegou ao topo quase quatro anos depois, disse ainda que sua excelente fase é fruto de um longo processo de amadurecimento.

- Nadal e Federer foram os dois tenistas mais dominantes pelos últimos cinco anos. Era frustrante chegar nas fases finais de um Grand Slam e então encontrá-los. Eles sempre acham seu melhor tênis nestas horas. Foi um longo processo me desenvolver como tenista e pessoa e encontrar uma maneira de ultrapassar as expectativas e pressões. Sempre acreditei que podia derrotar esses dois. E esta foi a única maneira de estar aqui agora.

sexta-feira, 1 de julho de 2011

Nadal impede revanche de Murray e enfrenta Djokovic na final em Wimbledon

Rafael Nadal terá a chance de conquistar o título de Wimbledon pelo segundo ano consecutivo. Nesta sexta-feira, o espanhol impediu a revanche de Andy Murray e derrotou o britânico de virada por 3 sets a 1 (parciais de 5-7, 6-2, 6-2 e 6-4). Na decisão, ele enfrentará Novak Djokovic, novo número um do ranking mundial.

Murray viu sua chance de fazer história no torneio se encerrar. O último tenista britânico que havia conquistado o título em Wimbledon foi Fred Perry em 1936. E desde 1938 nenhum atleta da Grã Bretanha chega à decisão do torneio – o último foi Bunny Austin.

Para completar, Murray não conseguiu se vingar de Nadal. No ano passado, os dois também se encontraram nas semifinais em Wimbledon, mas acabou derrotado pelo espanhol. O britânico terá mesmo que se contentar em vencer o rival no videogame – Murray revelou que Nadal é seu “freguês” no Playstation.

Além de defender o título, Nadal terá outra motivação para a final de domingo. O espanhol encarará Novak Djokovic, que tomou de suas mãos a liderança do ranking mundial ao derrotar Jo-Wilfried Tsonga na semifinal do Grand Slam inglês. Mesmo se levar a taça, Nadal ficará atrás do sérvio.

Djokovic faz final inédita e confirma número 1

A partir da próxima segunda-feira, o tênis terá um novo líder. Novak Djokovic garantiu seu nome no topo da lista da ATP ao vencer Jo-Wilfried Tsonga pela semifinal de Wimbledon por 7/6 (7-4), 6/2, 6/7 (9-11) e 6/3. Seja Rafael Nadal ou Andy Murray seu adversário, Londres verá uma decisão inédita.

O caminho até uma das vitórias mais importantes de sua carreira começou mal. Tsonga quebrou no primeiro game da partida e salvou dois break-points sacando em 4/3. Sacando bem demais, disparando forehands e encurralando Djokovic na defesa de fundo de quadra, o francês parecia caminhar tranquilamente para vencer o primeiro set.

Porém, sacando com 5/4, Tsonga enfrentou três break-points. Salvou todos, mas cedeu mais um com um forehand para fora. Os dois confirmaram seus saques e o francês fez uma série de erros, facilitando a vitória de Djokovic no set. Abalado, Tsonga perdeu o saque logo no início do segundo e só confirmou o saque duas vezes na parcial.

O terceiro set parecia tranquilo para Djokovic, quando o sérvio quebrou, mostrou agressividade e administrava a vantagem. Porém, tomou contornos dramáticos em seguida. Primeiro, Tsonga devolveu a quebra e fez 4/4, depois perdeu o serviço e viu Djokovic sacar para o jogo.
O sérvio vacilou e a decisão foi no tiebreak, onde ele teve dois match-points no saque de Tsonga e nada pôde fazer contra os aces do francês. Assim que cedeu o minibreak, viu o francês acertar mais um saque incrível e ganhar o set. O cabeça 2, mais uma vez, abriu uma quebra de vantagem no quarto set e, dessa vez, não deixou escapar.

Djokovic tentará no domingo seu primeiro título na grama e Grand Slam fora da Austrália, onde tem duas conquistas. Ele diminuiu sua desvantagem no confronto direto com Tsonga para 5 a 3. O francês, por sua vez, não conseguiu ser o primeiro tenista de seu país a ir à final desde 1997.

Na final, Djokovic teria retrospecto positivo apenas contra Murray, 6 a 3, incluindo a final do Aberto da Austrália deste ano. O sérvio perdeu 16 e ganhou 11 vezes de Nadal, mas quatro desses triunfos foram neste ano, todos em finais de Masters 1000.

Djokovic ganhou 47 partidas em 2011, mas a de hoje certamente tem um lugar especial na carreira do sérvio, que finalmente recebeu a recompensa por estar fazendo uma temporada quase perfeita.